Correção de solo ácido do cerrado levou tempo, mas atualmente local produz 5 milhões de toneladas de soja e é a 2ª maior produtora de algodão do país.
Há cerca de 30 anos, o Oeste da Bahia não tinha nenhuma importância na produção de grãos. Hoje, a região colhe mais de 5 milhões de toneladas de soja por ano e é a segunda maior produtora de algodão do país.
Parte do aquífero Urucuia, o segundo maior país, está no Oeste da Bahia. Nascentes, rios perenes, cachoeiras, veredas e nascentes impressionantes dividem espaço com campos de produção imensos, tecnologia avançada e agricultura de precisão.
Dos grãos, a soja é o principal e ocupa 65% da área cultivada na região, ou 5% da produção nacional.
A terra onde brota a riqueza do agronegócio, há três décadas, era uma vastidão de mata de cerrado nativa, de poucos donos e quase nenhum valor comercial.
“Quando nós compramos aqui, a gente pagou uma carteira de cigarro por hectare. Eu lembro porque foi nosso parâmetro para falar do preço na época. Era de graça e ainda tinha prazo para pagar”, conta o agricultor Jaime Capellesso.
No auge da safra da soja, as máquinas funcionam 12 horas por dia. No ano passado, a produtividade foi recorde: 66 sacas por hectare. Este ano não foi possível conseguir o mesmo resultado, a média foi menor.
Os produtores consideram que, desta vez, o ciclo de chuvas não foi dos melhores para a lavoura de soja, foi mal distribuído. Mas da produtividade acima de 54 sacas por hectare eles não reclamam. É que nessa região a fertilidade da terra garante o desenvolvimento da planta mesmo em condições desfavoráveis.
Quem poderia imaginar que o solo pobre, ácido, e arenoso do cerrado um dia fosse considerado fértil? Para isso, foram necessários muitos anos de correção, explica o agrônomo Luiz Stahlke, da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).
“Desde o início do cultivo, o produtor tem que fazer a correção do PH dos solos daqui. Com calcário e incremento de nutrientes, principalmente fósforo e potássio.”
Ele diz também que a matéria orgânica formada pela palhada deixada no solo após cada colheita ajuda a reter água e faz com que a planta sofra menos nos períodos de estiagem. Nas áreas onde isso não é feito, a produtividade cai.
Cícero Teixeira era empregado de uma empresa do agronegócio e hoje tem sua própria fazenda. Produzir soja era um sonho e poder operar a colheitadeira que comprou com o resultado da lavoura fazia parte dos planos.
“Colheita não tem dia, não tem hora, é a hora que der a oportunidade. Quando eu comecei, eu locava a colheitadeira. Na época não tinha a tecnologia que tem hoje. Essa tem piloto automático, GPS, faz leitura de colheita, produção, umidade do grão”, conta orgulhoso.
Cícero está colhendo desta vez 54 mil sacas de soja. Além das máquinas e equipamentos modernos, tem quatro empregados fixos. Comprou 500 hectares há 19 anos, e hoje tem 1 mil hectares e planta em 700.
Ele conta que estava trabalhando quando um produtor vizinho avisou que a terra estava à venda.
“Foi uma oportunidade ímpar que eu tive na vida. Eu fiz meu primeiro financiamento no banco. Foi necessário fazer uma parceria com um produtor, amigo meu, que me deu uma baita mão na época. Ele disponibilizou máquina para a gente começar. Então juntamos força, a união. E foi o que fizemos, foi o pontapé inicial.”
O agricultor tem a ajuda da família para tocar a fazenda. E o investimento na formação das filhas foi fundamental. Sheila, a caçula, fez engenharia de alimentos e com o marido, que é contador, cuida da administração.
“Baiúchos”
Cícero é um dos pioneiros na produção de soja na Bahia. É baiano de Baianópolis, município da região.
Mas é do sul a identidade da grande maioria dos produtores do Oeste do estado. João Antonio Franciosi, por exemplo, já se considera “baiúcho”.
“Tenho 33 anos de Bahia e 22 de Rio Grande do Sul, então sou baiúcho.”
Ele chegou à região atraído pelas terras baratas, algo em torno de R$ 20 o hectare. Era o preço de um almoço na época. “Ia almoçar e o custo disso era um hectare, não almoçava e comprava terra”, brinca.
Mas terra quase de graça não era tudo. Havia o custo de desmatar o cerrado praticamente virgem. Comprou 200 hectares e levou junto os dois irmãos, que também moravam no Rio Grande do Sul. A implantação das lavouras exigiu, além de muito trabalho, persistência.
“Apanhamos 12, 13 anos da soja. A gente não expandiu área, buscava produtividade. No primeiro ano, produzimos 13 sacas por hectare, depois 17. Fomos buscar tecnologia para buscar uma maior produção para viabilizar o plantio.”
Juntando as fazendas que têm hoje, Franciosi e os irmãos são donos de 90 mil hectares. Entre os produtores da região, são o segundo maior. Produzem em áreas de sequeiro e irrigadas e a soja ocupa mais de 70% das terradas. Mas a área de algodão tem aumentado a cada ano.
“A rentabilidade do algodão é melhor, mas dá mais trabalho, tem mais risco, tem que ser tecnificado, caprichoso. O investimento é algo, as máquinas só servem para algodão, mas a gente já aprendeu a trabalhar com esse risco.”
Tecnologia de ponta
A tecnologia tem avançado muito no Oeste baiano. O monitoramento da produção, antes feito na caderneta de anotações e que levava dias para ser concluído, hoje pode ser resolvido em segundos pelo celular.
Pelo aplicativo, Samuel Carvalho, gerente da fazenda, consegue fazer a leitura do plantio e da colheita. Consegue saber com exatidão a produtividade e localizar as áreas com infestação de pragas e doenças.
“Se tem uma área com praga e doença, consigo programar o avião para pulverizar só em cima dessa área. É preciso, otimiza custo e trabalho, a gente consegue economizar muito. Hoje, com esse aplicativo, estamos reduzindo o custo em torno de 20% a 30%.”
O pessoal do escritório controla à distância, pelo computador, tudo o que se passa na produção. No campo, as máquinas só faltam falar. E os operadores, mais do que nunca, precisam de qualificação.
A plantadeira com que José Elias Sales trabalha, por exemplo, faz quase tudo sozinha. Tem piloto automático, GPS, monitor de acompanhamento. Até mesmo o volante, ele só usa para fazer a manobra no fim da linha de plantio.
Os trabalhadores que dominam as novas tecnologias das máquinas agrícolas dificilmente ficam sem trabalhar no Oeste da Bahia. E quem não opera no campo, nem no plantio, nem na colheita, na época da safra também tem muito trabalho. É a época dos motoristas de caminhões ganharem dinheiro.
Roberto Francisco dos Santos, por exemplo, faz duas viagens na semana, de Luís Eduardo Magalhães para Salvador. Ganha R$ 800, R$ 1 mil por viagem.
Para transportar a safra de soja do Oeste baiano para Salvador, são necessários cerca de 42 mil caminhões. Se fossem colocados juntos, formariam uma fila que começaria em Barreiras e terminaria no porto da capital baiana.